Chapter Text
Ao abrir os olhos, Chanyeol tomou conhecimento de algo novo sobre Baekhyun: ele dormia descoberto e roncava.
Pouco depois de começarem a assistir ao filme, Chanyeol apagou no colo de Baekhyun. Acomodou-se entre as coxas dele, e quando se deu por conta, estava no lado esquerdo da cama durante a madrugada. Baekhyun fez o máximo para não se mexer tanto e acordar Chanyeol, ajeitando-se no lado direito sobre o edredom.
E agora desperto, Chanyeol não conseguiu se conter: precisou contemplar o garoto adormecido logo ali, a centímetros de distância. No meio da noite, Baekhyun trocou de roupa e optou por um pijama largo de botões.
De surpresa, o anfitrião da casa murmurou:
— Tá me deixando tímido.
— Bom dia. — Chanyeol disse baixinho.
— Quase boa tarde, né? — Baekhyun sorriu para ele, espreguiçando-se. — Acordei pra ir ao banheiro mais cedo e já passava das dez. Que horas são?
— Sei lá, já deve ser meio-dia. Nosso encontro me deixou cansado — Chanyeol debochou, virando de barriga para cima e coçando a cintura. — Você me fez dirigir até o extremo da cidade pra sentir formigas subindo na minha bermuda.
— Eu sei que você gostou, seu tonto.
— Cala a boca, ridículo.
Deram sorrisos bobos um para o outro. Baekhyun continuou enquanto olhava para Chanyeol com os cabelos bagunçados:
— Meus pais saíram pro brunch de uma colega da minha mãe, mas eles não se importaram de você ter dormido aqui. Meu pai até elogiou o quanto seu carro é limpo.
Chanyeol esboçou uma careta. Ele nem tinha visto o pai de Baekhyun pessoalmente ainda, e já estava com o carro estacionado na garagem dos Byun! Sentiu-se um tanto quanto folgado, e o aval de Baekhyun para Chanyeol “fazer o que quisesse” ainda não era o suficiente.
— Qual é mesmo o nome do seu pai?
— Baekbeom.
— Fale pro senhor Baekbeom que agradeci a hospitalidade. E que o filho dele tem uma cama muito confortável.
— Quê? — Baekhyun franziu o cenho e riu, sentando-se para ficar com as costas contra a cabeceira. — Não vou falar isso pra ele…
Chanyeol revirou os olhos e terminou de sair debaixo do cobertor. Espreguiçou-se o máximo que pôde, e Baekhyun notou que ele era maior que a cama. Qual era a altura de Chanyeol, afinal?
O garoto se juntou a Baekhyun, sentando-se ao lado dele, e bagunçou um pouco mais seu cabelo já desgrenhado. Baekhyun murmurou um palavrão, e Chanyeol completou a provocação com um cutucão na sua barriga.
— Ei! Sua mão é forte, sabia? Cada dedo seu tem o peso de uma rocha!
— Ai, me desculpe, senhor delicadinho… — deixou a voz mais aguda, e Baekhyun revidou com uma pequena cócega na coxa dele.
Em meio à brincadeira, a camisa do pijama de Baekhyun, meio desabotoada, caiu um pouco de seu ombro esquerdo. Chanyeol precisou registrar com afinco aquela cena maravilhosa: a clavícula do garoto que queria tanto beijar, e parte da pele que ansiava por ter sob os próprios lábios infinitas vezes.
Quando tomaram fôlego depois das risadas altas, Baekhyun disse:
— Fiz uma coisa pra você!
Do espaço entre o próprio corpo e a parede rente à cama, Baekhyun tirou um origami feito com papel listrado de lilás e roxo. Era uma borboleta dobrada com esmero, e ele havia desenhado dois pontinhos para representar os “olhos” dela.
— Toma.
Chanyeol segurou o origami na mão direita, virando a dobradura nos dedos para observar cada uma das partes. Havia muita dedicação naquele pequeno presente.
— Pra você ficar sabendo, eu passei horas fuçando a sua conta de origamis.
— Como é curioso, hein? — Baekhyun brincou, descansando a cabeça no ombro do outro. — Eu sei fazer muitas coisas que aprendi na internet, na verdade.
Chanyeol o encarou de volta, na luta para conter o enorme sorriso que ameaçava estampar. Colocou a borboleta sobre a coxa, e passou o braço pelos ombros de Baekhyun.
— Obrigado, eu adorei o presente. Às vezes sinto que demorei tanto pra te conhecer.
— Por quê?
— Porque… Você é você, Baekhyun. Porque você é você.
Chanyeol não queria desfazer aquele toque. Não queria ter que levantar da cama de Baekhyun e ir embora. Se ao menos uma vez na vida, apenas uma única vez, pudesse parar o relógio e aproveitar um momento específico de aconchego, aquele seria o escolhido para usufruir de tal desejo. A respiração de Baekhyun em seu braço, somada ao jeito com que a mão dele estava próxima da sua perna, fazendo-lhe cócegas com a ponta dos dedos, deixava Chanyeol desnorteado e tornava o ar denso, quente e embriagante.
Loucura e calmaria dançavam em seu peito.
As cortinas balançavam contra a janela aberta, e os raios solares atravessavam o vidro para formar desenhos transparentes na pele deles. Baekhyun ergueu a mão e a aproximou dos lábios de Chanyeol, que lhe depositou um beijo nos dedos esguios.
De repente, o celular de Chanyeol vibrou algumas vezes debaixo do travesseiro.
— Sua mãe?
— Qual delas? — Chanyeol brincou, puxando o aparelho para checar a tela.
— Não sei, acho que as duas seriam atenciosas o bastante pra te ligar. Ou pode ser o Sehun.
— Não, Sehun com certeza… — Chanyeol viu quem era o dono das mensagens, e parou de falar na hora.
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Sungjae: Precisamos conversar.
Sungjae: Tenho algumas coisas pra te devolver. Estavam na minha casa...
Sungjae: Quer sair amanhã?
Sungjae: Não vem?
Sungjae: O Bibi tá aqui
Sungjae: Tô te esperando na cafeteria. Aquela que você sabe…
Chanyeol bufou, e Baekhyun não foi capaz de ignorar.
— O que foi?
Ele não queria mencionar as mensagens de Sungjae para Baekhyun. E pelo visto, o ex-namorado já o esperava no ponto de encontro que Chanyeol não havia combinado. O que diabos aquele babaca queria? Se Sungjae tinha alguma coisa para devolver, por que não deixar o que quer que fosse na porta da casa dos Park e pronto?
— Eu preciso encontrar o Yixing daqui a pouco — mentiu. Na verdade, Chanyeol já se sentia incomodado com a situação. — Vamos fazer um trabalho de Literatura Estrangeira hoje.
Baekhyun o encarou em silêncio, sem saber o que dizer. Chanyeol franziu o cenho e deu uma risadinha sem graça.
Que merda…
— Foi mal. Eu não queria ir embora agora, juro.
— Não, tá tudo bem. Não tem problema, sério — Baekhyun balançou a cabeça, espantando os pensamentos intrusivos. — Já tá na hora da gente levantar, de toda forma.
Esperou Chanyeol sair da cama primeiro para depois acompanhá-lo. Quando Chanyeol observou Baekhyun espreguiçar-se de novo, deixando um pouco da barriga aparecer sob o pijama, teve vontade de puxá-lo de volta para as cobertas e enchê-lo de selinhos em cada espaço da sua pele.
— Quer tomar café?
— Você não disse que já era meio-dia? — Chanyeol brincou. Antes de sair do quarto, deixou o origami na escrivaninha para buscar depois.
— Sim, mas eu sou péssimo na cozinha. Tem problema se a gente comer a sobras do piquenique?
⊜
Chanyeol estava puto. Puto. A única palavra que poderia expressar as emoções que sambavam dentro de si.
Estacionou na frente da cafeteria e não saiu do veículo de primeira. O esforço valeria a pena? Será que mentir para Baekhyun, dirigir até o outro lado da cidade e aceitar o encontro com o ex daria em alguma coisa?
Poderia ter ficado na cama de Baekhyun vendo um filme e aproveitado a ausência dos pais dele, mas não. Estava parado no café que, no passado, foi um dos pontos de encontro prediletos dele e Sungjae, e com muita vontade de socar a própria cara.
Queria que fosse breve. Rápido, com mínimas palavras.
Saiu com as mãos nos bolsos, de cabeça baixa e a passos rápidos. Ouviu o sininho da porta quando entrou na cafeteria, e a música ambiente era irritante. Ergueu os olhos e o avistou.
A cinco mesas de distância, sentado próximo às janelas, estava Sungjae: cabelos pretos na altura das orelhas, olhar entediado e um sorriso que intimidava as pessoas. Chanyeol se aproximou, mantendo as mãos nos bolsos e os ombros curvados, e disse:
— Seja rápido. Tenho planos para hoje.
Ele não merecia um “oi” de verdade. Depois de sumir por praticamente um mês, Chanyeol não queria papo.
— Boa tarde. — Sungjae cumprimentou, colocando um pouco de sal na porção de batatas fritas que havia pedido. Ele, com o queixo apoiado na mão esquerda, deu um sorrisinho para Chanyeol, que revirou os olhos em troca.
Chanyeol sentou de frente para o ex e falou sem hesitar:
— Fiquei surpreso por ter me procurado. Faz quanto tempo que você não fala comigo, mesmo? Um mês, ou mais do que isso? Só vim buscar o que você mencionou nas mensagens, então seja breve.
— Ei, calma. Apenas te desejei uma boa tarde.
— Não sou surdo. O que foi, Sungjae?
— Muito apressado, Chanyeol. Só quero entregar algumas coisas que estavam no meu quarto, tá? — Sungjae respondeu, arrumando a franja comprida com a mão livre. Ele pegava cada batata frita com a ponta dos dedos e mastigava devagar propositalmente enquanto falava. — Te tirei de algum evento importante, por acaso? Sei que você não tem nada de bom pra fazer da vida.
Como ele ousa?
— Eu não estava em nenhum “evento” — mentiu mais uma vez, porque estar com Baekhyun era sim algo importante, mas Sungjae não merecia saber. — Mas eu quero descansar. Minhas semanas são sempre cheias com a escola e o trabalho.
O sorriso do outro era sacana.
— Está bem, você me convence fácil. Aqui.
Sungjae pegou uma caixa de papelão do assento da cafeteria e a empurrou de leve sobre a mesa. Chanyeol colocou a encomenda no colo para ver o que tinha dentro.
Estava meio aberta, e de cara viu só quatro itens — o suficiente para deixá-lo atônito. A música ambiente e o barulho da cozinha não seriam o bastante para tirar Chanyeol do transe.
Um CD gravado em casa, um headset, um pequeno álbum de fotos polaroide e…
Um polvo de pelúcia. Há muito tempo, quando Chanyeol ficou fissurado em algumas modas que surgiram no TikTok, ele e Sungjae compraram um polvo de duas faces para ser o filho dos dois, o qual deram o nome de Bibi aleatoriamente.
Bibi virou o xodó de Chanyeol. Ele deixava o polvo em cima da cama, colocava o brinquedo na mesa do computador quando conversava com os amigos por call, e lavava Bibi duas vezes por semana para ficar cheiroso. Apegou-se por completo.
Depois do término, tentou ocupar a mente com tantas outras coisas que acabou esquecendo de Bibi. Porém, a devolução fez Chanyeol desbloquear diversas memórias afetivas do seu antigo relacionamento.
Na mesa da cafeteria, o garoto ficou mais puto ainda.
— Onde isso estava?
— Na minha casa, já disse. Você nunca voltou pra buscar.
— Este polvo sempre ficava comigo. Queria entender o porquê de estar com você, mas foda-se. — Chanyeol colocou a caixa de lado, mas manteve o polvo no colo sob a mesa.
— Está irritado? Chanyeol, eu só quis te devolver essas tralhas.
— E-então por que não me deu antes? — Xingou-se por gaguejar. Odiava parecer fraco quando devia se impor.
— Eu apenas queria te entregar pessoalmente, Chanyeol. Ficou com medo de mim do nada? Você me bloqueou da sua vida, esqueceu?
Medo? Chanyeol não estava com medo. Estava com raiva, desacreditado pelo fim tão brusco daquele namoro, sem nenhuma explicação elaborada e com um beijo que o deixou acamado por dias.
— Não estou com medo.
— Então o que é? Caramba, pensei que você já tivesse me superado. — Sungjae comeu mais algumas batatas fritas do prato, pagando de indiferente.
— E eu superei. Mas você nunca me disse o motivo para terminar comigo.
— Você nunca entenderia.
Chanyeol ficou sem palavras.
Era horrível não saber expressar tamanhas emoções desconfortáveis. Ele só queria gritar, xingar e jogar tudo na cara de Sungjae, mas a fala do outro serviu como um “cala a boca”.
Só queria ter a força para assumir que havia se sentido abandonado. Quanto mais engolia aquela situação mal resolvida dentro de si, mais parecia que ia explodir.
Chanyeol tentou ficar longe dos pensamentos sobre o ex-namorado, como se não precisasse colocar um ponto final naquele capítulo da vida. Entretanto, tudo retornou de uma só vez. O fingimento e a ignorância deram um soco na sua cara com aquela maldita caixa e o polvo desgraçado.
— Pare de fazer bico pra mim.
— Eu faço o que quiser.
— Chanyeol, tenha dó. Você é um saco quando age desse jeito. — Sungjae cuspiu as palavras.
— O como quer que eu reaja? — Chanyeol desabafou, batendo com os punhos na mesa. — Desculpa, mas eu nem queria te ver!
— Então tenha vontade própria na vida! Você não tem um pingo de atitude?
Chanyeol quis vomitar.
De uma hora para outra, ficou tão cansado. Esgotado, com vontade de ir embora e desabafar com qualquer pessoa. Ele precisava que alguém dissesse que seus sentimentos eram válidos, e que um coração partido não era uma fraqueza. Mas naquela cafeteria e diante de Sungjae, Chanyeol sentiu-se desesperadamente só.
— Acho que preciso ir.
— Ok. Já te dei tudo que precisava entregar.
— Ótimo.
Uma quietude tomou conta do café e alguns clientes encaravam os dois de soslaio. Chanyeol engoliu a seco e voltou as mãos para o polvo sobre as pernas.
— Vamos encerrar tudo agora. Não devo mais nada a você.
— Você nunca me deveu nada, Sungjae.
— Tchau, Chanyeol.
Chanyeol levantou e saiu com a caixa nos braços.
Ele não era uma pessoa que chorava tanto. Chanyeol ficava emocionado em situações muito pontuais, como ocorreu na formatura de Sehun no ensino fundamental ou quando as mães foram promovidas no mesmo dia em seus respectivos empregos.
Só que todo mundo é forte até certo ponto, e o garoto enfim explodiu.
Entrou no carro, travou as portas e colocou a caixa no banco do passageiro. Em segundos, lágrimas brotaram nos cantos dos olhos, e Chanyeol deu murros no volante de tanta raiva.
Por que é tão difícil expressar algumas emoções, quando as palavras simplesmente travam na garganta e nunca completam o trajeto para fora, principalmente as que servem para nos defendermos do mundo?
— Eu me odeio, eu me odeio, eu me odeio… — murmurou, sem forças para ligar o carro, mas com vontade de partir em alta velocidade.
Puxou o celular do bolso, pronto para discar o primeiro número que visse na lista de amigos. Seus dedos tremeram na tela, e o touch pareceu falhar um pouco.
Jongdae atendeu depois do número tocar algumas vezes.
— Oi, amigo.
— Eu encontrei o Sungjae.
— O quê? — Jongdae quase engasgou, e então falou com outra pessoa fora da ligação. — Abaixa a música aí! Chanyeol, calma. Você… Quê?!
Chanyeol não disse nada, e o amigo respirou fundo.
— Cara, você me pegou de surpresa. Me conte o que aconteceu.
— Eu fui embora da casa do Baekhyun, mas antes disso o Sungjae disse que queria me encontrar e devolver umas coisas — tentou combater os soluços do choro que atrapalharam a explicação. — Tô arrependido. Eu estou… Extremamente arrependido, Jongdae. Eu sou uma merda.
Estava abatido como a febre do beijo o havia deixado semanas atrás. Jongdae voltou a falar:
— Chanyeol, vá pra casa. É a melhor coisa que você pode fazer agora.
— Me desculpe. Não era para eu estar assim, nosso encontro foi tão rápido…
— Não precisa se desculpar — Jongdae já estava ficando agoniado, sem saber como apaziguar o amigo por meio do celular. — Vá embora e esqueça o que aconteceu. Quer que eu vá até sua casa? Eu não moro longe de você, cara.
— Não precisa. Eu já vou indo.
— Tome um banho, assista alguma coisa pra se distrair, e depois nos falamos de novo, tudo bem?
— Tá bem.
Encarou o polvo de pelúcia, que o fitou de volta de dentro da caixa. O brinquedo estava com a carinha feliz para fora, na cor rosa, e Chanyeol quis virá-lo para a face contrária, triste e roxa. Polvo filho da puta de merda.
— Sinto muito, Chanyeol.
— Obrigado, Jongdae. Obrigado por atender.
— Sempre. Me avise quando chegar em casa. O celular vai ficar do meu lado.
Chanyeol não ligou para Jongdae quando chegou, decidido a não conversar com mais ninguém, nem mesmo Baekhyun.
Passou por Sehun e as mães na sala, que ocupavam o dia com a programação da TV, e trancou-se no quarto. Não deu espaço para as perguntas que fizeram. Colocou uma música alta de uma playlist qualquer no computador, caiu na cama e encarou o teto pelo que pareceu quase uma hora.
E começou a gritar de raiva. Chanyeol meteu o rosto no travesseiro, abafando a voz, e gritou até ficar rouco. Poderia dobrar uma placa de metal com as próprias mãos e arremessá-la na cara de Sungjae.
Naquele momento, Sehun passou pelo corredor e assustou-se com o grito do irmão, mas resolveu não incomodar. Ele estava num momento delicado.
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Perto das dez da noite, Chanyeol foi para o quintal com a caixa de papelão e ateou fogo em tudo.
Aproveitou que o vento soprava para o lado oposto à casa e montou uma pequena fogueira. Jogou tudo no espaço que a família geralmente usava para as fogueiras no inverno: o headset, o CD (cheio de músicas que havia gravado para Sungjae), as polaroides e Bibi. Assistiu ao polvo de pelúcia derretendo nas labaredas, e mexeu no celular para se distrair enquanto o fogo destruía o “monte de tralha”.
Quando pulou os diversos stories dos colegas no Instagram, Junmyeon surgiu nas notificações com três mensagens que deixaram Chanyeol alerta:
@kimjuncotton: Fiz o convite do aniversário do Baekhyun!
@kimjuncotton: Vai ser na minha casa, né? Vou compartilhar com todo mundo na escola amanhã
@kimjuncotton: Ele vai adorar a surpresa!!!
Chanyeol tinha se esquecido: o aniversário de Baekhyun seria na sexta-feira.
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— Me passa o shampoo.
Chanyeol entregou o vidro para Sehun, que espalhou um pouco do líquido rosado na mão. O garoto agachou de frente para Toben, o vira-lata mais novo do abrigo, e passou o produto ao longo do pelo úmido.
Os irmãos acabaram atrasando o dia de visita ao abrigo de animais, e compensaram na quarta-feira em que Chanyeol conseguiu folga na loja. Já haviam passeado com os filhotes pelo quarteirão, e ajudaram os outros atendentes com as fichas dos cães mais recentes.
— Enfim, foi isso que aconteceu — Chanyeol falou enquanto enxaguava um cachorrinho branco e bege. Os bichos olhavam para eles de dentro de bacias coloridas, molhados e cheirosos. — Eu não te falei antes porque… Sei lá. Fiquei com vergonha.
Desabafou com Sehun sobre o encontro com Sungjae, e o irmão apenas assentiu durante todo o relato.
— Cara, é aquilo: se ele mesmo disse que o assunto está encerrado, então foda-se. Você já pegou suas coisas de volta, fez uma fogueira no quintal que quase queimou as plantas da mãe, e pronto.
— É complicado. E eu já pedi desculpas pra mamãe.
— Bola pra frente, Chanyeol. Você precisa colocar isso na cabeça. — Sehun disse, e voltou a se concentrar no banho de Toben.
Chanyeol sabia que o irmão não falava da boca para fora. Ele tinha o tom certo para falar das coisas sérias e racionais. Situações como aquela faziam Chanyeol enxergar Sehun como alguém muito mais maduro.
Quando a preocupação dos dois voltou a ser o banho dos cachorros, Sehun comentou:
— Então, e a festa?
— Hm? — Chanyeol franziu o cenho.
— A festa do Baekhyun. É depois de amanhã, não é?
Aquele evento. A festa de aniversário de Baekhyun que martelava no fundo da mente de Chanyeol.
— Ah, verdade. O Junmyeon tá cuidando de tudo.
— E você tá participando?
— Por quê? — Chanyeol encarou o irmão que queria saber demais.
— Sei lá, só quis saber se você preparou algo pro seu namorado. — Sehun disse num tom zombeteiro.
Seu namorado. Chanyeol não rebateu o termo dessa vez.
— Junmyeon falou que prefere arrumar a festa sozinho. Talvez eu incomode com a minha ajuda. É a casa dele, de todo jeito — Chanyeol tirou o cachorro da bacia e deixou que ele se afastasse para chacoalhar os pelos. — Você acha que eu incomodaria?
— Quê?
— E se o Junmyeon me deixou de fora do plano porque eu iria implicar?
— Mano, ele não criou um plano maquiavélico. Tá maluco?
— Não tô. Mas eu sou chato, Sehun?
Sehun fitou Chanyeol, ignorando o cachorro que latia, e bufou.
— Você só pode estar brincando.
— Por quê?
— Chanyeol, por favor. Acho que o seu encontro com o Sungjae tirou alguns parafusos do lugar na sua cabeça.
— Mas… Eu sou?
— Cacete… — Sehun fitou o horizonte antes de se voltar para Chanyeol à esquerda. — Se você fosse, eu não aceitaria fazer tudo com você. Fica calmo, a festa vai ser uma surpresa de todos nós pro Baekhyun. Ele vai adorar.
Chanyeol ficou momentaneamente aliviado.
No dia seguinte, estava pilhado de novo.
Fez as provas da escola no automático de tanto que sua cabeça estava nas nuvens. Pensou em Baekhyun e nos beijos impossíveis, na fraqueza que demonstrou na frente de Sungjae e no pequeno arrependimento que crescia por queimar o polvo.
Na aula de Ciências Biológicas, Chanyeol assistia ao lápis que balançava na ponta dos dedos, entediado. Faltavam vinte minutos para o tempo da prova acabar, mas quatro das dez questões ainda estavam em branco na sua folha.
E Baekhyun, que passou a ser o seu parceiro de bancada, tentava disfarçar a preocupação.
— Ei, Chanyeol? — Baekhyun sussurrou ao seu lado, certificando-se de que o professor não achasse que estivessem colando.
— Hã.... O quê? — meio sonolento, Chanyeol virou o rosto ligeiramente para ele.
— Vamos, você consegue. Só quatro perguntas.
Chanyeol desceu os olhos para a prova. Não estava nem um pouco interessado, e queria desistir. Aceitaria a recuperação no fim do mês e pronto. Não possuía um resquício de concentração.
Foram os últimos a deixar a sala. Quando entregou a prova ao professor, cinco minutos antes do sinal, Baekhyun observou Chanyeol de longe e tentou transmitir um pouco de motivação só com o olhar. Mas o amigo largou os quadrados das respostas em branco, o que não garantiria nem metade da nota total.
No corredor movimentado pelos alunos, Baekhyun andou até o armário para buscar o lanche. Quando chegou no local, viu um garoto encostado na porta metalizada.
— Junmyeon?
Diante do chamado, o amigo esboçou um grande sorriso.
— Baekkie! Não acredito que trombei com você antes de chegar no refeitório. — Junmyeon deu um meio abraço nele, e deu espaço para Baekhyun pegar o almoço no armário.
— Aconteceu alguma coisa?
— Como assim? Não aconteceu nada, amigo. Só estava contemplando o seu… Armário.
— Meu armário? — Baekhyun soltou uma risadinha.
— Sim! É que… — Junmyeon pigarreou, formulando uma resposta rápida. — Eu e Yixing terminamos a prova, e decidimos passar por aqui antes de irmos comer. Ele foi ao banheiro, na verdade.
— A gente não é da mesma classe? Sempre passamos por este corredor pra ir ao refeitório. — Baekhyun, agora com a lancheira na mão, semicerrou os olhos.
— Ai, não pergunte tanto, seu curioso. Enfim, cadê o Chanyeol?
Yixing saiu do banheiro masculino próximo da sala de Ciências Biológicas, arrumando a gola do moletom novo. Acenou quando viu Baekhyun, que retribuiu.
— Ele ainda tá na sala. O Chanyeol anda esquisito essa semana.
Junmyeon e Yixing trocaram olhares, tão confusos quanto Baekhyun com a atitude do amigo em comum.
— Esquisito, ele sempre termina as provas cedo… — Junmyeon indagou-se por um momento, mas logo mudou de assunto. — Mas então, Baekhyun, o seu aniversário! O que vamos fazer amanhã?
Baekhyun refletiu um pouco e deu de ombros.
— Nada, na verdade. Eu nunca me planejo, gente. — explicou, lembrando das vezes em que os amigos de outros países enviaram-lhe postais e cartões presentes de lojas. Fora isso, o costume de fazer festas era inexistente.
Junmyeon sorriu maliciosamente para Yixing, que fez uma expressão travessa. O que poderia fazer? Junmyeon gostava das coisas extravagantes e agitadas, e a festa surpresa de Baekhyun estava meio que pronta.
— Então espere até amanhã. Vamos para a minha casa, e fazer uma noite da pizza com toda a nossa turma.
— Eu gosto! Só preciso avisar meus pais, mas vou sim. Vai ter bolo, né?
— Com toda a certeza. — Junmyeon piscou para Baekhyun.
Yixing e Junmyeon comentaram sobre pegar uma mesa no refeitório, e Baekhyun disse que esperaria por Chanyeol. Despediu-se temporariamente dos amigos, e resolveu voltar para a classe.
Porém, da porta da sala de aula, não enxergou mais ninguém além do professor Choi.
Chanyeol havia sumido.
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Durante esse tempo, Chanyeol Park havia se trancado numa das cabines do banheiro masculino do segundo andar.
Quatro questões em branco na prova, e oito guias abertas no navegador do celular. Chanyeol checou livrarias, lojas de artigos de papelaria e coisas aleatórias na Amazon atrás de um presente expresso para Baekhyun. Qualquer coisa.
Quis ter procurado com antecedência. Desejou ter consultado as lojas físicas do centro comercial, pedido dicas para os amigos ou até mesmo pesquisado os gostos de Baekhyun mais a fundo.
Mas não fazia nada certo. Você não tem um pingo de atitude?
Então, uma notificação pulou no topo da tela. Era uma mensagem de Junmyeon em formato de story temporário.
Clicou e assistiu à filmagem do armário de Baekhyun, com a voz de Junmyeon ao fundo:
— Vocês estão todos convidados pro aniversário do Baekhyun amanhã, na minha casa! Se não sabem onde moro, perguntem para os amigos de vocês, oras. É às oito da noite, não percam!